Religião é apenas um pretexto para violência de extremistas islâmicos

 O padre espiritano Tony Neves disse à agência Lusa que "a religião é apenas um pretexto" para os ataques de extremistas islâmicos na província moçambicana de Cabo Delgado.

Lusa /
Kola Sulaimon - AFP

O missionário espiritano sublinhou que "os grupos fundamentalistas islâmicos estão a atacar aldeias de comunidades cristãs, igrejas e capelas", mas garantiu que "por trás desses ataques está toda a questão do gás e das riquezas naturais daquela zona".

Tony Neves destacou as semelhanças entre o norte de Moçambique e outras regiões africanas em conflito.

"Em Cabo Delgado, como na Nigéria, a evocação religiosa serve para encobrir interesses económicos profundos", mas também políticos, referiu.

O clérigo lamentou as perdas humanas e a destruição provocadas pelos ataques.

"Há aldeias inteiras dizimadas, com tudo destruído. Uma irmã italiana, missionária comboniana, foi assassinada há dois anos na área de Cabo Delgado", recordou.

Embora os espiritanos não tenham presença direta na diocese de Pemba, o padre explicou que a congregação se mantém ativa em regiões próximas e acompanha de perto a situação.

"Os dados que temos são os mesmos que toda a gente conhece. É uma realidade trágica e comprovada", refletiu.

O religioso salientou ainda que, apesar da maioria das comunidades em Cabo Delgado se assumir como muçulmana, esta sempre viveu perfeitamente integrada no país.

"A verdade é que, ao falar sobre Moçambique, sempre houve uma comunidade islâmica muito forte, mas que sempre se deu muito bem com a comunidade cristã", concluiu. 

A província de Cabo Delgado, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.

Um levantamento da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês) estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou, pelo menos, 12 eventos violentos entre 13 e 26 de outubro, provocando 18 mortos entre civis.

Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo dados anteriores da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

De acordo com o mais recente relatório da ACLED, dos 2.236 eventos violentos registados desde outubro de 2017, em Cabo Delgado, um total de 2.061 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).

Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.659 mortos.

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.

 

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